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Modelos e práticas políticas

Por que os modelos e as práticas políticas que dominam nossas sociedades não só não questionam ou buscam superar as relações de rebaixamento dos seres humanos, como as implementam como condição de seu exercício e continuação? Esses modelos e práticas, ao contrário, sustentam e investem relações de coerção e captura entre dominados e dominantes, governados e governantes, até o limite que os separa tornar-se interior, subjetivo, espiritual. Não mais um limite transcendente da lei que proíbe, nem mesmo um limite transcendental da norma que obriga, mas um imperativo do desejo imanente que se impõe, onde finalmente se adere a uma economia política do controle que se introjeta como dicotomia em nós: uma economia política do poder. O mais econômico dos governos é aquele que torna secundário os controles externos.Tornamo-nos finalmente escravos de nós mesmos.
Nossas práticas políticas dominantes – ao silenciarem e esfumarem essa dicotomia -, fraudam a condição de autonomia das diferenças, produzem tipos cooptados e adeptos fundamentalistas desse modo de viver. Ao nos fazermos cúmplices, não apenas queremos o poder por todos os meios, liberais ou não, mas nos tornamos replicantes eufóricos desse modo mutilado de desejar. E é enquanto reprodutores que inevitavelmente acabamos por constituir uma sociedade de delatores, procuradores, advogados, juízes que gozam ao enquadrar e criminalizar tudo o que dela difere. Tudo isso viria expandir e inflacionar a crença nessa bizarra idéia de liberdade, a de que somos os empreendedores de nós mesmos como indivíduos atômicos. Mas nessa condição não passamos de escravos. Prisioneiros dessa condição, sonhamos desejar livremente essa vida. Mas essa liberdade é de um tipo tal que só pode ser imaginada do ponto de vista de uma cabeça capturada e de um corpo esvaziado da experiência da própria duração. (…)