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A arte como estilização da existência (curso presencial realizado)

Seminário de arte e filosofia

A Revista Bravo! e a Galeria Mezanino lançam juntas o seu primeiro seminário de quatro aulas, com o filósofo Luiz Fuganti. O tema é “A arte como estilização da existência”. Leia abaixo o programa do curso.
Em tempos de super-desenvolvimento técnico e expansão das tecnologias de informação temos subjugado a experimentação criativa. Em meio à inflação de produção e reprodução de objetos, mecanismos, dispositivos materiais e significados semióticos, perdemos não só a capacidade de experimentar o acontecimento enquanto ele acontece, mas também a capacidade, mais essencial, de experimentar o tempo como duração criadora.

Alienados, colocamos em risco a perda do desejo. E o desejo, em suas esperas e espreitas, é a fonte dos nossos maiores tesouros — a fonte de onde nascem e jorram novos valores.

É preciso reconquistar a condição criativa.
Experimentar a vida de modo intenso não é fácil, assim como é rara a ideia que constitui o ser da obra de arte, e que coincide com nosso ser ao criar blocos de sensação (um composto de afetos-perceptos).
A proposta do curso é pensar e discutir todos os invólucros e suas manifestações: o corpo, a percepção, o desejo, o tempo, a sensação, a arte coincidindo com a vida.

Aula 1 ou Primeiro Ato: Corpo e movimento: corpo intenso/corpo pleno

Do fio do desejo, esticado entre a potência e o ato, nasce o corpo. O corpo resulta do arco tenso da potência virtual e da flecha do acontecimento que a atualiza. Se a potência é necessariamente em ato, e se o desejo é a própria potência em processo de atualização, podemos dizer que ao desejo nada falta.
Corpo e desejo são inseparáveis e definidores do caminho da existência. Corpo sem desejo é corpo sem acontecimento, e corpo sem acontecimento é corpo sem existência, corpo sem variação, ou ficção.
O corpo vivo é um modo singular de atualizar a potência de existir. É um topos diferencial de uma potência em ato.
Do desejo intenso resulta o corpo extenso, inseparáveis como dimensões de um mesmo bloco, constituído de movimentos intensivos por um lado, correlacionado a um conjunto de órgãos efetuadores pelo outro lado.

Aula 2 ou ou Segundo Ato: Tempo e acontecimento

Os cortes móveis e hiatos entre ações/paixões e esperas, luz e sombra, luz e trevas, luz e branco: opacidades e visibilidades.
As polarizações decifram o tempo, desde que os polos, como as próprias dimensões do tempo, sejam apreendidos como coexistentes.
Tudo que avança (ou retorna) em direção ao futuro, ao mesmo tempo retorna (ou avança) sobre a linha do seu passado, modificando-o, tornando-o sempre diferente como um inédito ainda por vir, assim como o futuro que avança e que no passado era outro. A essência do tempo é intensiva, não intencional, feita de direções simultâneas ou polos coexistentes, mais do que de dimensões sucessivas de uma linha unidirecional constitutiva do bom-senso.

Aula 3 ou Terceiro Ato: Afectos e Perceptos

O afeto não se confunde nem com a afecção, nem com o sentimento, o percepto não se confunde nem com a percepção, nem com o objeto percebido.
Distinguir sentimento de afeto, depois distinguir afetos passivos ou paixões de afetos ativos ou ações, para deles extrair não uma imagem de si mesmo como faz nossa consciência, mas a própria variação em ato como devir imediato das nossas potencialidades de criar realidades e pô-las em movimento, e sobretudo, criar a própria existência como criação de si.
Para isso é necessário conquistar a condição de uma sensibilidade aberta, livre das mediações morais. Desentupir os poros de nossas membranas bloqueados por hábitos, pelo simbólico e pelo imaginário: clichês, esquematismos, palavras, imagens. Desbloquear nossos canais receptivos, entulhados por resíduos tóxicos, por uma inflação de imagens instantâneas, opacas, sem profundidade ou movimento interno, sem duração.
Tudo isso é a condição crítica para uma conquista criativa.

Aula 4 ou Quarto Ato: Criação de sensação e criação de si como obra de arte

A criação de sensação se dá aumentando nossa potência de ser afetados. Limar e atravessar os muros significantes da linguagem e das imagens que nos prendem ao céu do ideal.
Usar a nossa potência de perceber como força de criar horizontes virtuais no tempo, como novas maneiras de existir, constituir blocos de sensação. É aí que a arte coincide com a vida: a arte como criação de blocos de sensação. Os blocos de sensação como estilização da existência.
Precisamos chegar ao limiar crítico, onde a desconstrução de nós mesmos enquanto seres reativos deve ser levada a cabo.
A crítica deve nos implicar, envolver nossas cumplicidades, destituir o inimigo em nós, a instância que em nós nos assujeita e quer se passar por sujeito livre. A crítica pode e deve ser eficazmente destrutiva. Destrutiva dos modos de separar a vida do que ela pode, que acontecem por uma dupla captura. Primeiro, pelo mau uso do bem ou do mau que nos atinge. Segundo, pelo investimento no ideal que supostamente nos resgata do rebaixamento. A partir daí conquistamos a condição criativa, estamos prontos, é chegado o tempo de pensar-se e criar-se como uma obra de arte.

Luiz Fuganti é filósofo, arquiteto e professor. Suas práticas filosóficas têm fomentado e contribuído com movimentos sociais, políticos, de cultura e arte no Brasil e no exterior. Fuganti é o criador do movimento Escola Nômade de Filosofia.

[box type=”shadow” align=”” class=”” width=”600px”]Curso em 4 aulas: A arte como estilização da existência, por Luiz Fuganti. Datas: 9/11, 16/11, 23 /11 e 30/11. Horário: das 20h às 22h. Local: Galeria Mezanino (Rua Cunha Gago, 208 — Pinheiros, São Paulo, tel. (11) 3436–6306. Preço por aula: R$ 90,00. Pacote com as quatro aulas: R$ 300,00. Inscrições até 7/11 pelo e-mail: [email protected][/box]

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