fbpx
Ler outros textos

Laboratório Política e Pensamento

(curso já realizado)

Realizado por Luiz Fuganti

#Encontros

LABORATÓRIO POLÍTICA E PENSAMENTO

Capitalismo, Subjetividade e Ética do Desejo

PROGRAMA DE CURTO PRAZO (INTENSIVO)
O que queremos com este curso-laboratório:

Inspirar novas práticas micro-políticas de revolucionar o cotidiano, diagnosticando as cumplicidades dos modos de desejar em nós com os poderes constituídos que supostamente combatemos. Reconhecer a ausência de pensamento e de devires ativos nas políticas partidárias e seus desgastados meios institucionais de representação ou participação indireta; Reinventar o presente e o que se apresenta em nós através dos acontecimentos que afetam nossos destinos, de nossas vidas e de nossas sociedades, e problematizar seus institutos de autodeterminação soberana.

Atos ou movimentos

Ato 1: Política e Pensamento: combates nômades e Estado sedentário; aparelhos de captura, natureza policial tanto do Estado de Exceção quanto do Estado de Direito.

Ato 2: Economia Política – dos modos e relações de produção como efeitos/efetuadores de processos maquínicos que causam as formações sociais; e dos modos de apropriação da natureza e das relações humanas para produção material e imaterial do desejo: público, privado e comunal.

Ato 3: O que é e o que pode o Capital e os limites do Capitalismo.

Ato 4: Ética e liberdade – políticas do desejo e o Estado em nós.

[box type=”info” align=”aligncenter” class=”” width=””]

LOCAL: Rua Paris, 304, Sumaré, São Paulo, próximo a estação Vila Madalena do metrô.

INSCRIÇÕES: Curso já realizado

VALORES:

Modalidade Presencial R$380

Modalidade à Distância R$200

Parcelamento em até três vezes.

OBSERVAÇÃO: Ao final será emitido certificado.

APRESENTAÇÃO

Porque propomos esse curso laboratório?

O momento presente testemunha práticas dissonantes e rivalidades políticas com os mais diversos matizes. Apesar desse pluralismo aparente, muito frequentemente podemos apreender pressupostos comuns a essa multiplicidade de posições políticas, que tanto podem justificar lutas opostas quanto condená-las a repetir fórmulas unificadoras, que rebaixam e capturam as multidões e seu pluralismo real e vital para o convívio em sociedade.

Reproduzimos, ao ignorar a história e a coexistência das diversas formações sociais que seguem se atualizando e concorrendo como modelos a seguir, soluções tão modernas quanto arcaicas. Sucumbimos de antemão, quando primamos pela militância ou ativismo em detrimento de um pensamento real, necessariamente político. E ao apostarmos num debate ou num diálogo menos passional, mas nos apoiando na ‘opinião verdadeira’, na ideologia, ou mesmo numa ‘ciência política’, sentimos uma insuficiência que tende a fraudar o pensamento que inova e trocá-lo por falsas superações, dissimulando um profundo cansaço. Nesse conformismo depressivo, acabamos por reproduzir procedimentos reformistas ou mesmo colaborar para violar os direitos mais elementares da vida.

Assim inviabilizam-se as experiências em curso, mas não dominantes, da produção de uma zona comum que legitime a afirmação máxima das nossas singularidades. São nossas próprias maneiras de investir as relações de sociabilidade e de composição de movimentos, e não nossas verdades evocadas como legítimas, que liberam e potencializam modos de vida constituintes de um corpo social forte, capaz de submeter as políticas de Estado e do Capital às políticas afirmativas da vida soberana, e que por isso mesmo pode dispensar coações, coerções, capturas, controles e violações de toda a espécie. Quando perdemos o sentido intenso e o valor de acontecimento do que nos move, ficamos entre o passional da opinião e o ideal da verdade, sem detectar e trabalhar nossas zonas de cumplicidade praticadas contra a vida dos seus em nome de uma liberdade vigiada, submetida aos excessos das políticas policialescas de segurança praticadas por indivíduos, grupos, sociedades e Estados.

Esse curso-laboratório propõe constituir um grupo de pesquisa e um meio de experimentação das ações pré agenciadas. Queremos criar práticas de si e de intervenção coletivas, se não inovadoras, ao menos realmente libertárias, de caráter micropolítico e ao modo das revoluções moleculares, que alteram direta e imediatamente as condições de vida no curso de sua efetuação cotidiana. Criar e/ou implementar práticas interventoras que inspirem novas maneiras de se fazer política, e que não se confundam com as políticas partidárias e seus desgastados meios institucionais de representação ou participação indireta das decisões que afetam o destino de nossas vidas, de nossa sociedade e seus institutos de autodeterminação soberana.

[toggle title=”Capitalismo, subjetividade e ética do desejo” state=”close”]

O que pode comandar afinal a vida humana? Em que sentido podemos exercer efetivamente a liberdade de nossa vontade, no contexto do capitalismo mundial integrado? Quem, no contexto do nosso presente, em nós ou fora de nós, decide em última instância nosso destino e o de nossas sociedades? A dimensão virtual de nossa vida escapa à consciência normal que temos dela. E quando não, nos vemos tão incapazes de nos servir dessa duração pura que a desprezamos como inútil e sobretudo inconveniente. No entanto, essa realidade abstrata e paralela não só não para de nos transpassar, como constitui a parte essencial de nossas vidas e das sociedades, e tanto nos provoca e condiciona, submete e assujeita quanto mais nossos modos míopes de existir a negligenciam. Ultrapassando-nos enquanto nos reduzimos a uma realidade cristalizada, composta de imagens e discursos (plano dos fatos), essa fonte permanente de forças permanece irredutível, embora imperceptível tanto para a consciência prática quanto para a consciência especulativa.

O sujeito consciente percebe, sente, distingue e age tão somente através das afecções do seu desejo, cujas formas de saber (figuras, imagens, hábitos, costumes, memórias, palavras e sentimentos), de interpretar e de avaliar enquadram os outros, a si próprio e as suas relações, reduzindo-os a dimensão realizada do real. Mas esta realidade que se dá a perceber em verdade é feita de sedimentos de afecções residuais depositados no tempo e filtrados, significados e hierarquizados pelos poderes atuais conforme à natureza do seu presente. Assim, pelas lentes dos poderes estabelecidos, determina-se quais matérias e modos de realidade devem fazer parte, e em que ordem, da história que nos envolve. Constrói-se do passado uma memória parcial e mutilada, interessada em dele conservar apenas o que fomenta e legitima a coesão das forças dominantes do presente. Esses encadeamentos sucessivos e sobrepostos de memória se sedimentam como camadas de rocha ao mesmo tempo em que se separam como blocos ou ilhas da duração que os engendrou, “elevando-se” sobre ela, para recortar e recair sobre os movimentos do presente.

São estes encadeamentos de condensados atomizados de espaço-tempo que condicionam o espírito de uma época, que orientam o traçado nas fronteiras do presente, – através de sua dupla superfície de inscrição envolvendo o tempo que vai e o tempo que vem,- dos limites do que pode ser considerado um fato real e, para além do traçado, um delírio da história, loucura dos inconformados ou idealismo de humanos. E suas camadas sobrepostas e sucessivas de espaço-tempo empilham-se como se pudessem acumular e recolher todo o real e fazê-lo caber em sua dimensão formal única e unificadora, ordem totalizadora tornada doravante princípio e critério do que é acolhido como real e excluído como delírio! A consciência, seja ela ideológica, científica ou pragmática, toma frequentemente as formas desse saber-afecção, e se posiciona como legítima representante de uma realidade consumada e irrevogável. Toma essa realidade como dada a priori, subsistindo sob as coisas substanciais, sob os objetos e substratos naturais, sob os sujeitos e verdades universais. Para captar o real pleno e consistente que flui por debaixo e por trás dos seres estáveis reconhecidos pela nossa consciência ordinária, é preciso um modo de pensar capaz de captar e contar com a coexistência das realidades virtual e atual. Tocamos a realidade virtual quando uma pura duração irrompe por dentro e entre nosso campo de percepção e campo de ação, através das dilatações e contrações de nossa força de existir.

Essa pura duração nos perpassa, nos atrai e, mesmo a contragosto, arrasta nossa existência ou realidade atual para longe de suas formas, pondo-a em conexão imediata com uma variação contínua e intensiva de nossa força vital, como num devir cósmico infinito. O real virtual, a dimensão naturante da natureza, como diz Spinoza, não se confunde (como a consciência confunde) com o campo do possível. E a realidade atual, a dimensão naturada da natureza que se apresenta em sua exterioridade existencial aos nossos sentidos corporais e a nossa consciência mental, se mostra como sintoma de forças naturantes em fuga, mas também como efetuação de sua criação em ato. Quanto mais nos aproximamos do estofo dessa realidade sintomática, mais percebemos que é feita de camadas de imagens, como envelopes que envolvem movimentos e tempos sempre em processo de intensificação ou de distensão. Mas esses efeitos não são meros acidentes, e sim efetuadores das forças que atravessam e constituem o presente em sua materialidade. Usos políticos desses efeitos tornam-se frequentes conforme as circunstâncias. Os movimentos e tempos do presente são envelopados. Enquanto imagens dos produtos fabricados no tempo da existência são re-embalados com as camadas das afeções humanas que lhes são atribuídas, retribuídas.

Pode-se então redistribuir socialmente os sentidos e valores reinventados ou reproduzidos, para constituir tanto a forma da verdade como o plano dos fatos. Inclui-se aí, é claro, os infindáveis produtos das diversas culturas humanas que, no entanto, não deixam de se produzir como blocos de realidades mutantes (em variação contínua) através dos movimentos que traçam a história, como acontecimentos e invenções do tempo que flui. Essa nossa consciência, encerrada nos limites daquilo a que chama realidade, está condenada a escravizar-se pelo mesmo ato em que tenta salvar-se, isto é, por uma fixação obsessiva à ficção da verdade como valor universal e norma de conduta, devota a um plano fixo de ideias que acoberta e inverte o sentido e o valor real do fluxo incontido de suas paixões reativas; assim como está também condenada a submeter-se por conformação a um plano de realidade concreta feito um substrato natural dado. Não obstante essa dupla ilusão, forças reais que a transbordam não param de brotar, fluir e refluir em direção a essa fronteira virtual, produzindo e compondo nossos corpos, mentes, mundos e destinos, e desfazendo seus pontos de coagulação, seus estados de acomodação e limites reativos circulares. São estas as forças de ponta e de coesão que efetuam, determinam e preenchem a condição de funcionamento das coletividades humanas no limiar das relações de sociabilidade.

Se percebemos o imperceptível de seu maquinismo e suas perturbações informais, temporais e materiais, nos damos conta que no nível da consciência formal não somos autênticos sujeitos de nossas vidas; no máximo organizamos, distribuímos e nessa medida nos servimos dos estados corporais, mentais e afetivos em três lances de tempo: Remetemo-los, primeiro, a um substrato ‘natural’ cujo ponto de origem é, antes de um ‘Eu’, um estado de impotência ou de não-acontecimento, isto é, uma separação de nós mesmos por fuga do devir. Na prática, esse corte interrompe a conexão imediata entre a nossa potência essencial e o ato existencial que a continua e a singulariza, pelo sequestro do acontecimento e da fronteira relacional que são substituídos por um ato parcial ou estado passional, trocando a potência de acontecer como força inventiva em devir por um acontecido mutilador como força reativa e projetiva de um estado material de ressentimento. E nisso coincidimos com uma operação de não relação ou não troca para a qual se predispõe todo Estado; ele começa quando perdemos o interesse na relação com outrem, seja o Outro ou outras multiplicidades. Depois, além de remetê-los por introjeção a uma ‘origem’, projetamos e atrelamos esses três estados a um fim, a um ideal de sobre-natureza, triplo valor dominante que se inscreve no futuro que cultivamos e nos guia no presente, e cujo ponto de chegada nos resgata triplamente, ao se materializar nos processos de empoderamento e capitalização por seleção comportamental, mental e afetiva. E, por fim, esticamos entre esses dois polos, o fio da moral que pretende nos conduzir, aprimorar e normalizar a ponto de identificar nosso modo de viver a um axioma ($) universal, que não pára de nos sinalizar a vitória, para nos converter a novas tarefas que nunca nos levam ao podium, adiando indefinidamente a recompensa ou preenchimento final que nos tornaria plenamente empoderados, e atestando, isso sim, o crescimento infinito de um buraco negro e impreenchível, cuja sucção implacável de luz do desejo realimenta a insuficiência infinita de um devedor irremediavelmente insolvente.

O Capital pode tornar-se então valor dominante no horizonte de um futuro que se abre, promessa redentora, contraponto do horizonte fechado, opaco e esvaziado que sequestrava o futuro da vida tornada nua, cuja única propriedade doravante é sua força de produção disponibilizável indefinidamente, tornada refém por antecipação. A segunda captura se dá não mais por separação e precipitação das condições para implantar a dívida no coração do desejo. Dá-se por sedução, complementar daquela, por vínculo de oferta de crédito, por antecipar e canalizar as condições de acesso a uma experiência de gozo parcelado e de empoderamento cumulativo, em troca, é claro, de uma disponibilidade total do investimento do desejo cativo, condenado ao trabalho e ao salário. Descobrimos desde então com que se ocupava desde o início essa formação social cujo Deus soberano é o Capital e não a vida: a produção de peças muito especiais, humanas, como elementos funcionais de uma mega-máquina social, transmissoras de movimentos abstratos destinados a ultrapassá-los, mas não sem interromper e realinhar os devires da vida para dela extrair mais-valor. Para fazer deles peças-funções da mega-máquina social, é preciso tornar reativos por dentro, isto é, por processos de subjetivação os devires do desejo, abortar e conjugar seus fluxos recortados, fazendo-os servir àquilo que lhes escapa e sobrepõe. É por acoplamento intrínseco a essa máquina social, que tornamo-nos partes servis e cúmplices da cadeia que nos captura.

E quando pretendemos nos libertar desse regime de escravidão ou servilismo generalizado que nos sobre-codifica ou captura de fora, fugimos em direção a um ideal de autonomia humana e destino subjetivo pretensamente glorioso, supostamente divergente do sobre-código tirânico, mas que em verdade o efetua por dentro. Desse modo, no melhor dos casos, conquistamos o direito de escolher não mais ser escravos de quem e do que quer que seja que nos transcenda, senão apenas de nós mesmos, até mesmo quando dizemos que não somos servos do dinheiro, dos prazeres e dos poderes, mas nos servimos deles. Desejaríamos conquistar então, em nome dessa liberdade superior, a insígnia de sujeitos autorizados. Mas não pelo ato ético singular afirmador da diferença constituinte do nosso ser, e sim pelo arbítrio do ato moral de uma lei universalizante, tomada acima das partes e do todo social, e que se inscreve, pela ordem discursiva significante, na tábua de valores do nosso horizonte temporal de um futuro sem devir, como o valor humano por excelência! Podemos, mais do que escolher, ser escolhidos pelo maquinismo social de um sistema mundial integrado.

Quando nos igualamos aos seus axiomas de regulação, os postos mais avançados nos são disponibilizados. Mas justamente, fruímos desse plus de retorno por investirmos no poder que nos autoriza. Ora, isso não vai sem um processo indefinido de assujeitamento a seu ordenamento. Nos sentimos todos livres-empreendedores, mas não sem omitir e camuflar nossa condição de produtores mutilados, separados a priori de nossa potência autônoma de agir e criar, condenados a trabalhos quaisquer e sem mais agir o tempo como modalidade de atividade humana geradora e catalisadora de potências de criar existência. É assim que ambicionamos ser livres investidores, prenhes de ‘livres’ iniciativas de empoderamento de si e de ascensão crescente sobre os outros. É a ambição moderna por excelência de um tipo dominante de sujeitos sedentos de glória! Legisladores assujeitados – fruidores empoderados.

Esburacamos nosso desejo destituindo-o de seus processos de singularização. E o colonizamos com ideais de identificação aos modelos normativos autorizantes não só ao inscrevê-lo nos processos eletivos das identidades por comparação aos rostos-funções-padrões normais, saindo assim na frente dos outros pretendentes para tornar-se um escolhido (competência-capacidade qualitativa que nadifica o qualis expressivo de nossa singularidade; ou mesmo eficiência-capacidade quantitativa que fragmenta o quantum intensivo de nossa potência). Mas o colonizamos sobretudo quando o soldamos à cifra ou ao axioma que exprime sua capacidade de apoderamento/apropriação e estocagem de energia humana e maquínica por controle continuo e simultâneo das passagem ou canalizações do desejo, de suas tensões e atenções. O desejo singular torna-se virtualmente flutuante, substituível ou permutável ao infinito, como a tarja magnética de cartão de crédito/débito que faz passar ou barrar conforme é investido ou destituído de poder de pagamento (restituição do passado) ou de crédito (antecipação de futuro) presente ou porvir. Nossa identidade não passa de um axioma flutuante de permuta infinita servindo a uma axiomática global.

O Estado deixa de ser um fim Isomorfo, torna-se um meio de formas heterogêneas. Mas não apenas um meio ou aparelho com múltiplas formas expressas na multiplicidade dos Estados-Nações (totalitário, nazi-fascista, ditatorial, policial, liberal-democrata, social-democrata, socialista etc) de regular e efetuar o objetivo relativo e absoluto do capitalismo mundial integrado. Também e sobretudo como meio de interioridade, não só do que está dentro dos seus limites, mas sua interiorização subjetiva como modelo único de Interioridade espiritual ou subjetiva do bicho homem. Eis que é instalado no coração e no cérebro do desejo, como preposto dos poderes soberanos da mega-máquina social um ‘sujeito’ por delegação das cadeias segmentarizadas de comando: enfim o Estado em nós! Nunca houve contradição entre o Estado mais totalitário, regulador excessivo e interventor violento e o capitalismo mais liberal com seu ideal de Estado ‘desregulador’ e ‘não-interventor’, mínimo de Estado e de governo! Quanto mais o Estado tem um mínimo de axiomas para o mercado, mais ele é violento e totalitário para a vida e as populações. O Estado mínimo é o próprio Estado totalitário! O Eu torna-se o modelo da caixa de ressonância do poder em nós. Uma caixa-trono sobre nossos corpos e cabeças cujo ocupante empossado é um sujeito-de-interesse que opera por comparação e apropriação: eis seu modo de regular, interpretar, avaliar, enfim julgar! Para fazer ressoar dentro dele a vontade de estoque e apropriação de todo Valor (pelo buraco devorador do desejo) efetuando-se pela legitimação de um sujeito-de-direito que atribui a si (‘cheio’ da Lei/Estado). Do preposto do poder como Eu podemos dizer: é tanto a realização moderna da soldagem do desejo com a Lei, como a identificação do desejo e do Estado como condição do sujeito civil.

Finalmente, podemos dizer, o Estado somos nós! Se do Estado arcaico e despótico aos Estados democráticos modernos contemporâneos sua essência permanece invariável como ideal de uma dupla captura sem combate, podemos dizer que há sempre um déspota e um democrata que coexistem em nós. Não um guerreiro, mas um policial e um juiz! Um carrasco e um padre! Um vigilante e um carcereiro! O Estado vive e sobrevive através de nós, dura em nós, e por demasiado tempo! O preposto captura, coleta e controla indefinidamente a energia vital de cada dia, nossa e dos outros: tornamo-nos a um só tempo fonte e matéria, combustível afetivo, vítimas e carrascos de nós mesmos, pelos modos de viver que cultivamos. Numa palavra, a vida torna-se capital, capitalizadora e capitalizada nos processos de subjetivação que movem todo o sistema. Passamos então a existir apenas pelo crédito de um outrem, sujeito transcendental, função do capital que nos constitui enquanto endividados inatos e viventes insaciáveis. Fomos feitos instrumentos/peças de sua cadeia produtiva, distributiva, comercial e de consumo: caímos nos circuitos artificiais de desejo-falta-gozo como insufladores e contribuintes inflacionários das banalidades compensatórias. Este processo de constituição de uma realidade que é própria do capitalismo, imanente ao seu processo maquínico, faz com que adotemos sua condição de existência como a nossa própria condição a um só tempo de subsistência, subserviência e adesão ao sistema, preenchendo portanto essa mesma condição ao mesmo tempo como convém a nós e ao capital. Ao encontrarmos um ideal desinteressado de direito como condição de governabilidade, sobrepondo-se aos sujeitos de interesse, desejado como uma pura forma de um dever-ser universalizante, criamos as condições para que um governo de si coincida com o governo dos outros. Damos a essa formalização imanente estatuto de norma universal, legitimando nosso ímpeto de impô-la aos outros e estendê-la ao mundo: assim realizamos a utopia onde o governo de si coincide com o governo dos outros, onde aparentemente nenhum Estado se interporia entre nossa liberdade e nossa responsabilidade.

Mas é próprio dos Estados modernos e contemporâneos terem deixado de ser modelos transcendentes a serem seguidos para tornarem-se modelos imanentes de realização de uma só Vontade, de uma só Potência, axiomas variáveis de uma só axiomática, a do Capital. Assim, o acabamento da captura de nossas vidas acontece quando somos feitos ou nos tornamos cúmplices do aparelho capturador, isto é, colocamos o Estado dentro de nós, destituímos o Mediador, somos cooptados por nós mesmos, e compensamos nossa má-consciência tornando-nos seus devotos serventes, mas não sem fruir de suas ilusórias recompensas como procedimentos regulares de empoderamentos residuais que fazem a coesão dos sujeitos assujeitados. Como não seríamos legitimados então para tornarmo-nos, todos que conquistarem essa condição, empreendedores livres? Não seria esse o ideal do homem médio que em nada diferiria do homem superior de Kant? Ou o ideal do Liberal, do livre-empreendedor que pratica como valor supremo a livre iniciativa?

[/toggle]

[table id=4 /]

10 Comments

  • Osiel Magalhães
    6 de abril de 2016

    Quais as datas e os horários do curso?

    • Luiz Fuganti
      7 de abril de 2016

      Olá Osiel, Dias 04, 11, 18 e 25 de maio de 2016 das 19h30 as 21h10

  • Luiz Costa
    7 de abril de 2016

    Bom dia, esse curso será presencial ou on line??

    • Luiz Fuganti
      7 de abril de 2016

      Olá Luiz, tanto presencial quanto online (ao vivo e/ou através da gravação das aulas)

    • Luiz Fuganti
      7 de abril de 2016

      Tanto presencial quanto online (ao vivo e/ou através da gravação das aulas)

  • Patrícia Bello
    7 de abril de 2016

    Como é feita a inscrição?

  • Bruno Davelli
    7 de abril de 2016

    Quero participar mas n achei as datas!
    Como faço p participar?

    • Luiz Fuganti
      7 de abril de 2016

      Em Sp haverá uma primeira versão deste curso nos dias 04, 11, 18 e 25 de maio de 2016 das 19h30 as 21h10, na rua Paris,304 – bairro Sumaré. Para inscrever-se neste curso em SP, envie email para [email protected]

      Para demais cursos: [email protected]

  • Tatiany Volker
    15 de março de 2018

    O curso está disponível em vídeo aulas? Como já foi finalizado, gostaria de ter acesso aos materiais que foram produzidos a partir das aulas.

Adicione seu comentário