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Formação Pensamento Ocidental – aula 3/32 – O saber e o poder

Nós abordamos aqui desde o início uma questão central que nos atravessa e que, já falamos, vai se repetir em todas as nossas exposições. Essa questão é a da colagem da vida, do desejo e do pensamento num plano de imanência, em algo que nos atravessa e que constitui não só a nossa realidade, mas que constitui a realidade de qualquer ser existente, de qualquer pensamento, de qualquer desejo, de qualquer corpo.

Formação Pensamento Ocidental – aula 4/32 – Platão e a vontade de outro mundo

Em Platão você tem um movimento dialético e um movimento mítico. Esses dois movimentos dão a unidade ao método da divisão. Platão inventa o método da divisão para distinguir o puro do impuro, para separar o eu profundo, a parte eterna ou inteligível da alma, das partes inferiores da alma e do próprio corpo. E desse modo atingir a verdade. Então esse método da divisão é um misto de razão e mito – isso é que é importante marcar. Porque o Platão vai fundar duas categorias do pensamento ocidental de que nós não nos livramos até hoje, que é a de identidade e a de semelhança, a partir da instauração da narrativa mítica. É o mito que instaura da identidade: a identidade só é possível numa circularidade fictícia. Nada na natureza vai do Mesmo ao Mesmo – a não ser uma ficção mítica. Ir do mesmo ao mesmo é o movimento de identidade platônica. E é esse movimento que vai gerar um critério para a seleção aqui em baixo.

Formação Pensamento Ocidental -Aula 05/32 – Sobrecodificação e regimes despóticos (transcrição)

Sócrates vai levar a cabo no pensamento, no discurso, no logos, um modo de operar que se funda numa instância que os gregos, até então, desconheciam, que é uma alma que se separa do corpo, é uma alma que tem eminência em relação ao corpo e que não tem origem na natureza, que tem origem num outro mundo, que tem origem divina. Então isso Sócrates vai fazer, ele vai usar esse elemento xamânico e as práticas ascéticas de esconjuração do corpo, de renúncia em relação ao corpo, na medida mesma em que ele tem a visão do corpo como prisão e como túmulo da alma, ele vai usar então essas práticas e essa maneira de interpretar a alma como instrumento para se construir o juízo ocidental.

Formação Pensamento Ocidental – Aula 06/32 – A fundação do modelo de pensamento transcendente (transcrição)

O que tem de positivo em Platão é o seguinte: Platão descobre – ou inventa – um tipo de ontologia onde o pensamento tem realidade própria e absoluta. Então isso, digamos, é comum a nós, nós também pensamos assim – o pensamento tem realidade própria e absoluta. Ainda que o absoluto do pensamento seja completamente outra coisa do que o Platão disse que era. Platão estava numa ficção, Platão estava num mito.

Formação Pensamento Ocidental – Aula 07/32 – Platão e o simulacro (transcrição)

Platão é um pensador que nos revela muitas facetas interessantes. Talvez por estar na origem do pensamento grego, ou nos meados do nascimento da filosofia, Platão ainda traga um certo frescor de como as coisas acontecem ou como as coisas se passam no plano do corpo e no plano do pensamento. Platão vive muitos problemas de época e esses problemas não são teóricos, esses problemas são de modos de vida. Apesar de ele ser um dos maiores responsáveis por mitificar o saber como desencarnado do modo de vida, a filosofia dele fica muito clara quando percebemos o que move Platão, o que ele quer, o que o incomoda, qual é o seu problema. Porque a teoria das ideias não veio do nada, não é uma coisa teórica simplesmente, não é que ele descobriu a sabedoria ou que ele descobriu o plano das ideias. Platão teve que inventar esse plano, esse plano não existia.

Formação Pensamento Ocidental – Aula 08/32 – Aristóteles e a fundação do indivíduo

Hoje eu quero sintetizar alguns aspectos essenciais da obra platônica que vão fundamentar o edifício da representação construído por Aristóteles. As bases do edifício da representação que Aristóteles construiu são absolutamente platônicas – ainda que uma série de historiadores, de comentadores, acreditem numa ruptura de Aristóteles em relação a Platão. A ruptura é apenas no jeito de manejar os signos, mas a essência do problema é a mesma. Não vou dizer que o problema de Aristóteles é o mesmo que o de Platão, mas ele desenvolve e espalha o problema platônico de modo ainda mais sutil e natural, porque Aristóteles vai partir de um mundo calmo, de um mundo pronto, de um mundo sem muitos conflitos, de um mundo sem muitos sofistas, de um mundo mais equilibrado, mais confiável. Aristóteles, digamos assim, é mais pacífico.

Formação Pensamento Ocidental – Aula 09/32 – O mecanismo representativo

Então vamos resumir novamente o sistema aristotélico; aí falamos um pouco sobre a linguagem no sistema aristotélico e seguimos na questão da representação. Aristóteles tem um problema que já é algo que se diferencia bem da questão platônica, porque o problema de Aristóteles já é organizar a representação – no sentido literal: produzir uma representação orgânica. Por que uma representação orgânica? Porque a diferença tem que entrar no conceito, ou ela tem que entrar na razão, ela tem que entrar na lógica. Em Platão isso é feito ainda de modo muito bruto, digamos assim: a diferença é uma coisa maldita e, ao mesmo tempo, ela tem uma vocação dócil – ou de ascensão – que levaria a receber uma marca produzida pela Ideia, onde faria da diferença uma imagem ícone., uma imagem cópia. No caso platônico, essa diferenciação é dada pelo grau de participação em relação ao modelo, ou pelo grau de semelhança espiritual que a imagem adquire ao se relacionar internamente, espiritualmente ou de modo incorporal com o próprio modelo.