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Transcrições

Formação Pensamento Ocidental – Aula 06/32 – A fundação do modelo de pensamento transcendente (transcrição)

O que tem de positivo em Platão é o seguinte: Platão descobre – ou inventa – um tipo de ontologia onde o pensamento tem realidade própria e absoluta. Então isso, digamos, é comum a nós, nós também pensamos assim – o pensamento tem realidade própria e absoluta. Ainda que o absoluto do pensamento seja completamente outra coisa do que o Platão disse que era. Platão estava numa ficção, Platão estava num mito.

Formação Pensamento Ocidental – Aula 07/32 – Platão e o simulacro (transcrição)

Platão é um pensador que nos revela muitas facetas interessantes. Talvez por estar na origem do pensamento grego, ou nos meados do nascimento da filosofia, Platão ainda traga um certo frescor de como as coisas acontecem ou como as coisas se passam no plano do corpo e no plano do pensamento. Platão vive muitos problemas de época e esses problemas não são teóricos, esses problemas são de modos de vida. Apesar de ele ser um dos maiores responsáveis por mitificar o saber como desencarnado do modo de vida, a filosofia dele fica muito clara quando percebemos o que move Platão, o que ele quer, o que o incomoda, qual é o seu problema. Porque a teoria das ideias não veio do nada, não é uma coisa teórica simplesmente, não é que ele descobriu a sabedoria ou que ele descobriu o plano das ideias. Platão teve que inventar esse plano, esse plano não existia.

Formação Pensamento Ocidental – Aula 08/32 – Aristóteles e a fundação do indivíduo

Hoje eu quero sintetizar alguns aspectos essenciais da obra platônica que vão fundamentar o edifício da representação construído por Aristóteles. As bases do edifício da representação que Aristóteles construiu são absolutamente platônicas – ainda que uma série de historiadores, de comentadores, acreditem numa ruptura de Aristóteles em relação a Platão. A ruptura é apenas no jeito de manejar os signos, mas a essência do problema é a mesma. Não vou dizer que o problema de Aristóteles é o mesmo que o de Platão, mas ele desenvolve e espalha o problema platônico de modo ainda mais sutil e natural, porque Aristóteles vai partir de um mundo calmo, de um mundo pronto, de um mundo sem muitos conflitos, de um mundo sem muitos sofistas, de um mundo mais equilibrado, mais confiável. Aristóteles, digamos assim, é mais pacífico.

Formação Pensamento Ocidental – Aula 09/32 – O mecanismo representativo

Então vamos resumir novamente o sistema aristotélico; aí falamos um pouco sobre a linguagem no sistema aristotélico e seguimos na questão da representação. Aristóteles tem um problema que já é algo que se diferencia bem da questão platônica, porque o problema de Aristóteles já é organizar a representação – no sentido literal: produzir uma representação orgânica. Por que uma representação orgânica? Porque a diferença tem que entrar no conceito, ou ela tem que entrar na razão, ela tem que entrar na lógica. Em Platão isso é feito ainda de modo muito bruto, digamos assim: a diferença é uma coisa maldita e, ao mesmo tempo, ela tem uma vocação dócil – ou de ascensão – que levaria a receber uma marca produzida pela Ideia, onde faria da diferença uma imagem ícone., uma imagem cópia. No caso platônico, essa diferenciação é dada pelo grau de participação em relação ao modelo, ou pelo grau de semelhança espiritual que a imagem adquire ao se relacionar internamente, espiritualmente ou de modo incorporal com o próprio modelo.

Formação Pensamento Ocidental – Aula 10/32 – A lógica estoica

É a apreensão da natureza dos laços dos acontecimentos ou das relações entre acontecimentos. E a liberdade é salva aí, nos acontecimentos, e também é salva nas causas. Você é livre de duas formas ao mesmo tempo: você é livre no corpo e você é livre no pensamento. É isso que está sendo dito. Como? O corpo se efetua. Os estoicos dizem – essa é uma máxima deles -: viva conforme a natureza. Já é uma máxima cínica. E os estoicos dizem a mesma coisa – viva conforme à natureza. O que é viver conforme à natureza? A natureza – ou tudo que existe – é corpo; o corpo é força, é causa; viver conforme a causa é viver conforme o que a causa quer. O que a natureza quer, o que a causa quer, o que o corpo quer, o que a força quer. E o que uma força quer? Se realizar, se efetuar – é só isso que ela quer. Não tem finalidade – a finalidade é a própria realização. Então você solapa, você tira aquele alvo final, aquele objetivo final desaparece e você tem simplesmente um “viver de acordo com a natureza” segundo a capacidade ou a potência que a força tem de se efetuar.

Formação Pensamento Ocidental – Aula 11/32 – Os estoicos e a ordem imanente da natureza

Um texto – aliás, isso aqui não é um texto, é “a obra” por excelência: Lógica do sentido do Gilles Deleuze. Essa obra foi a que resgatou, a que recuperou o estoicismo da forma mais impressionante e é uma obra absolutamente estoica. Lógica do sentido é exatamente a lógica do incorporal, é o objeto que o estoicismo destaca do ser – como objeto difícil de apreender porque ele é incorpóreo, é um objeto fugidio. E no entanto, como diz Deleuze, é mais ou menos como a Caça ao snark do Lewis Carrol (traduzido como A caça ao turpente, que é o tubarão-serpente, digamos assim) – que você não pega nunca, escapa porque é muito escorregadio, na medida mesma em que não é objeto da sensibilidade e nem da razão. É objeto do pensamento e o pensamento acontece num tempo que não é o do imaginário, que não é o da sensibilidade, que não é o da razão. Essa obra A lógica do sentido é como a Caça ao snark do Lewis Carrol que, aliás, é uma outra obra que Gilles Deleuze cita direto na Lógica do sentido como sendo uma obra que traz como objeto privilegiado o sentido na literatura. Toda a obra de Lewis Carrol é uma obra sobre o sentido e sobre o paradoxo, porque o sentido é paradoxal.

Formação Pensamento Ocidental – Aula 12/32 – O tempo aiônico

Entrar em acontecimento é, na leitura, já ser modificável – e não ser apenas modificado ou modificar o outro. É ser modificável em ato. Então essa modificação, no encontro que você faz com o texto, já por si só gera o entendimento. Porque é o entendimento em cima do modificável, do acontecimento mesmo. Então é uma forma de se relacionar com o texto que não estamos habituados – aliás, isso é o que elimina todo hábito, porque você se força o tempo inteiro ao novo. Então você pode ler 500 vezes uma série da Lógica do sentido; se você estiver em devir, você sempre vai ver coisas diferentes. É um livro riquíssimo, é um modo de pensar que habita, exatamente, o que ele tenta destacar o tempo inteiro, que é o tempo aiônico.

Formação Pensamento Ocidental – Aula 13/32 – Epicuro e Lucrécio

Hoje vamos entrar em Epicuro e Lucrécio, acho que com duas aulas nós liberamos esse pensamento nas questões mais essenciais. É uma filosofia absolutamente pluralista – acho que é a filosofia mais pluralista da Antiguidade. Deleuze mesmo diz que os atos de nobreza do pluralismo em filosofia começam com Epicuro e Lucrécio; era uma filosofia absolutamente plural, ela parte já direto da diversidade e da multiplicidade, o princípio já é a diversidade. Então ela se diferencia de toda a filosofia antiga nesse sentido. Mas eu acho que com duas exposições dá para termos uma boa noção do que nos interessa aqui.

Formação Pensamento Ocidental – Aula 14/32 – Epicuro e Lucrécio (continuação)

Hoje vamos dar sequência a Epicuro e Lucrécio do seguinte modo: vamos repetir aprofundando, porque eu acho que o esquema geral da filosofia de Epicuro e Lucrécio eu já passei na aula passada, e hoje vamos repetindo e aprofundando. Acho que a coisa fica mais clara desse modo. Eu já tive alguns feedbacks de que tiveram coisas da aula passada que ficaram um pouco confusas para algumas pessoas; acho que indo com uma certa calma hoje, dá para esclarecer alguns pontos essenciais.

Formação Pensamento Ocidental – Aula 15/32 – O nascimento do juízo (transcrição)

Hoje vamos falar um pouquinho do nascimento do juízo; é um tema supercomplexo, superdifícil, é tudo o que sintetiza a nossa inimizade. Toda a nossa indisposição, a nossa violência, a nossa crueldade, a nossa agressividade vai contra essa instância chamada juízo e é isso que vamos tentar esboçar hoje aqui de alguma maneira: como é que o juízo emerge nos moldes como o conhecemos. Porque os gregos não eram suficientemente niilistas, suficientemente negativos para terem instaurado a instância do juízo como um plano privilegiado de estabelecimento da verdade; os gregos eram suficientemente afirmativos para não deixarem essa planta venenosa nascer na sociedade deles. Por mais que você tenha o idealismo platônico, um niilismo muito forte ainda em Sócrates, em Platão, em Aristóteles, os gregos não têm um São Paulo. São Paulo é privilégio do ocidente cristão, é o inventor do cristianismo e um dos que gerou as condições mais elementares para que o juízo tivesse o sucesso que tem até hoje. São Paulo é, digamos, o grande intérprete, o grande formador do conceito cristão daquilo que o Nietzsche chama de má consciência. São Paulo é que interpreta a cruz – ou a morte de Jesus na cruz, O Crucificado – como um acontecimento que diz respeito ao mais íntimo da nossa existência a ponto de, através desse acontecimento, introduzir em nós a dívida infinita.